Quando Sophie Jaffe, de 31 anos, conheceu
seu marido, Adi, de 38, a química foi imediata. Anos mais tarde, o
relacionamento deles quase desmoronou quando ela descobriu uma teia de mentiras
que ocultava a verdade: Adi era viciado em sexo e precisava de ajuda. Sophie
explica como conseguiu lidar com a questão que ameaçava dar fim ao
relacionamento deles, e como isso tornou o casal ainda mais unido no final.
Como
eu descobri o segredo dele e nós resolvemos a
questão como um casal.
(Foto:
Sophie Jaffe)
O início da nossa história de amor
Meu marido e eu nos conhecemos na UCLA, em 2005. Ele estava no primeiro ano do
doutorado e eu no terceiro da graduação. Nós participávamos do mesmo curso de
neurociência , então começamos a estudar juntos e nos apaixonamos um pelo
outro. Eu sempre fazia o possível para estar no grupo de estudos dele, ele
sempre me levava para minha próxima aula e nós sempre trocávamos mensagens de
texto. As coisas evoluíram muito rapidamente; um pouco depois de nos
conhecermos, já ficamos quase inseparáveis. Antes do nosso namoro começar
oficialmente, ele me contou que já foi viciado em metanfetamina. Ele já havia
passado por uma casa de reabilitação, e o episódio já fazia parte do seu
passado. Para mim, isso era inspirador.
Após dois anos de relacionamento, Adi me
traiu.
Ele conheceu alguém na academia e saiu com
ela várias vezes; eles chegaram a dormir juntos uma vez. Ele foi sincero sobre
o ocorrido e eu terminei com ele na mesma hora. Viajei para a Guatemala,
Camboja e Tailândia como professora voluntária de inglês e ioga para crianças,
e tive muito tempo para pensar sobre o que aconteceu. Quase um ano depois do
final do relacionamento, quando eu estava na Tailândia, ele me escreveu uma
carta que dizia: “o que você faria se soubesse que não podia errar? Por mais
brega que pareça, eu faria tudo para ter você de volta e provar que sou a
pessoa certa para você. Eu te amo. Diga-me se devo seguir com minha vida ou se
ainda tenho uma chance”.
“Ele
conheceu alguém na academia e saiu com ela várias vezes; eles chegaram a dormir
juntos uma vez.”
Receber esta carta inesperada confirmou
minhas suspeitas de que, embora estivesse curtindo minha liberdade e aventuras,
realmente sentia saudades de Adi. Nós conversamos e concordamos que, caso
voltássemos, faríamos terapia; afinal, não teria sentido ficarmos juntos após
um ano só para nos separarmos novamente por causa de outra traição. Nós
precisávamos de ajuda profissional para resolver a situação. Então, nos
comprometemos a fazer isso e procuramos uma terapeuta, logo que ficamos noivos.
A descoberta de que Adi era viciado
em sexo
“Aparentemente,
toda vez que discutíamos por alguma coisa, enquanto eu chorava e ficava
chateada, ele trocava mensagens de texto com outras mulheres para se sentir
melhor”.
Quando estávamos noivos, eu ainda não
confiava plenamente no Adi, então costumava mexer no celular dele. (Eu sei que
não é um hábito muito saudável, mas é verdade.) Um dia, no caminho para a
igreja, encontrei mensagens de texto inapropriadas, que ele trocava com outras
mulheres. Ele dizia que queria ficar com elas e era explícito sobre o que
queria fazer na cama. Nesse episódio, ele desmoronou. Ele não queria me perder,
e foi a primeira vez que ele disse: “acho que sou viciado em sexo”.
Aparentemente, toda vez que discutíamos por alguma coisa, enquanto eu chorava e
ficava chateada, ele trocava mensagens de texto com outras mulheres para se
sentir melhor.
Adi procurou um grupo anônimo de ajuda para
viciados em sexo e começou a frequentar cinco dias por semana, e nós começamos
a ver outra terapeuta além daquela que já consultávamos antes. No ano novo, um
ano depois que nos casamos, descobri que estava grávida do nosso primeiro
filho. Então, quando chegou perto do dia dos namorados, descobri que Adi tinha
um grande segredo.
“Tínhamos
apenas quatro meses de casamento, mas eu tirei minha aliança.”
Adi tinha uma conta no Ashley Madison, um site para
pessoas casadas que querem trair seus cônjuges. Ele estava usando uma conta,
e-mail e nome falsos para trocar fotos sensuais e cartas com outras pessoas.
Ele ficou quase aliviado quando eu descobri o segredo, mas eu já me perguntava
quanto mais eu poderia suportar. Como eu poderia acreditar no que ele dizia, se
a situação parecia piorar cada vez mais? Ele jurou que nunca procurou nenhuma
dessas mulheres por sexo, mas por que eu acreditaria nele? Tínhamos apenas
quatro meses de casamento, mas eu tirei minha aliança.
Adi decidiu experimentar um programa de
reabilitação ambulatorial para viciados em sexo. Ele teria se internado, mas
para ser honesta, simplesmente não poderíamos pagar o tratamento enquanto ele
ainda batalhava pelo doutorado e eu estava apenas começando meu negócio de
saúde e bem-estar, o Philosophie. Ele fazia o tratamento ambulatorial de três a
quatro dias por semana e ainda consultava um terapeuta particular. Seu visível
esforço para melhorar me fazia sentir que ainda tínhamos uma chance.
Encontramos um grupo de apoio que acabou sendo ótimo para mim também. Todas as
noites de domingo, nós nos encontrávamos com outros casais que sofriam com o
problema do vício em sexo, jantávamos juntos e tínhamos reuniões. Era um
ambiente muito saudável para nós dois. Havia outros casais com relacionamentos
incríveis, e eu pude perceber que não éramos os únicos a lidar com aquela
situação.
Fortalecendo
nosso relacionamento
Nosso primeiro ano de casamento foi o mais transformador. Eu estava grávida,
nós não estávamos fazendo sexo e ele se esforçava muito para melhorar. Eu
também estava lidando com minhas próprias questões. Quando eu descobri que o
vício em sexo havia se manifestado novamente durante o nosso noivado, me
pareceu que era um problema que ele deveria superar sozinho. Eu não pensava que
também deveria fazer alguma coisa a respeito. Acontece que, uma vez que você se
casa com uma pessoa, você assume os problemas dela — todos eles. Quando comecei
a pensar no vício do Adi como um problema a ser abordado por nós dois, nosso
relacionamento sofreu uma transformação. Realmente tivemos que voltar ao
básico. Ele não podia ter amigas mulheres, sair com seus amigos ou,
basicamente, se encontrar com alguém além de mim. Nós tentamos muitas coisas,
como ioga, terapia de casais e outras alternativas. Tudo isso nos ajudou a
descobrir o problema real, que o levava a preencher um vazio com sexo. Em sua
essência, seu vício em sexo era uma forma de fugir da intimidade.
“Quando
comecei a pensar no vício do Adi como um problema a ser abordado por nós dois,
nosso relacionamento sofreu uma transformação”.
Os pais de Adi nunca lhe disseram que
gostavam dele durante sua infância. Normalmente, nós dizemos isso mais de 10
vezes por dia para os nossos filhos, mas este não era o caso dele. Então,
quando ele se sentia desconfortável com situações de intimidade — não apenas
comigo — o vício servia como uma fuga. No passado, ele foi traficante e viciado
em drogas. Quando a reabilitação o curou, sua fuga da realidade se tornou as
mulheres. Tinha muito menos a ver com ficar com a mulher e muito mais com a
intriga, a conquista e a necessidade de se sentir desejado.
Depois de toda a terapia, dos limites
impostos e da reabilitação, estamos mais íntimos do que nunca. Não temo nem um
pouco pelo futuro da nossa relação. A cada dia, eu confio ainda mais nele.
Nunca mais vigiei o celular dele, e não precisamos mais de limites muito
rígidos sobre as amizades de Adi ou suas saídas com colegas de trabalho. Acho
que ele está recuperado, mas não é como se o problema nunca tivesse acontecido.
É uma questão sobre a qual ainda falamos. Não estamos nos escondendo.
Também somos muito honestos com nossos
familiares e amigos sobre isso. Em primeiro lugar, a maior parte da minha
família o tomou como inimigo quando descobriram o problema, mas quando
expliquei que tínhamos um plano para dar a volta por cima e que eu acreditava
nele, eles lentamente começaram a nos apoiar. A maioria dos meus amigos nos
apoiou totalmente; eu abandonei aqueles que achavam que ele era apenas um fraco
e traidor. A experiência me ajudou a perceber quem estava realmente do meu
lado.
( Foto: Sophie Jaffe )
Nossa
vida nos dias de hoje
O vício em sexo é diferente de outros vícios, pois você não pode simplesmente
abandonar o sexo para sempre e se recuperar. Nós vivemos um relacionamento
dinâmico, íntimo, amoroso, e nossa vida sexual é muito equilibrada e saudável.
Às vezes, chegamos a fazer sexo três ou quatro vezes por semana, mas também
pode acontecer apenas uma vez nesse período. (Durante o tempo que ele estava
lidando com o vício, só transávamos uma ou duas vezes por mês). Nós nos amamos,
somos muito próximos um do outro e nossa confiança mútua nunca esteve tão
forte. Há algum tempo, se Adi sugerisse algo novo na cama, imediatamente minha
mente se enchia de insegurança e eu não parava de me perguntar o motivo por
trás daquilo. Hoje, isso não acontece mais. Eu consigo ficar feliz por meu
marido querer experimentar algo novo comigo.
Adi buscava se sentir melhor através de
outras mulheres. Depois de todo o esforço que ele fez com a terapia, sessões de
grupo e a compreensão que nos iluminou sobre o verdadeiro problema, ele não precisou
mais disso. Ele se tornou uma pessoa melhor, que ainda tem suas necessidades,
mas as satisfaz dentro do nosso relacionamento. Além do sexo, eu expresso minha
admiração por ele de outras formas, mostrando o quanto estou feliz pelo que ele
representa para nossa família.
Estamos casados há quase seis anos, e
muitas pessoas perguntam por que eu não o deixei. Eu poderia ter feito isso,
mas percebi a vontade que Adi tinha de mudar. Não era apenas conversa; as
atitudes dele validavam o que ele dizia. Uma das coisas mais inspiradoras sobre
este homem é que ele era um viciado e traficante, chegou a ser preso, saiu e
mudou de vida. Ele cursou um dos melhores programas de doutorado na área da
psicologia e agora está ajudando o mundo como um especialista em dependência.
Eu sei que o pai dos meus filhos cometeu erros, que ele tem um lado vulnerável,
mas também sei que ele tem o que precisa para mudar e crescer. Foram dois anos
de trabalho duro, cansativo e extenuante, mas nós conseguimos.
Sophie Jaffe é uma especialista em
saúde e bem-estar, chefe de cozinha especializada em alimentos crus e
professora de ioga. Ela fundou sua empresa, aPhilosophie,
com o objetivo melhorar a saúde de crianças e adultos de uma forma mais simples
e inspiradora.
Quando Sophie não está desenvolvendo
produtos revolucionários para as potências mundiais em super alimentos, ela
está compartilhando seus insights sobre viver uma vida cheia
de amor em seu blog Philosophie,
saboreando cada momento com seus filhos, Kai e Leo, seu amoroso marido Adi e
seu cão hiperativo, Lucca.