Eu testei os
fones de ouvido Sennheiser Orpheus de US$ 55.000
Eu fui uma das
primeiras pessoas no mundo a ouvir o novo sistema de fones de ouvido Sennheiser
Orpheus de US$ 55.000. Ele está sendo feito há 20 anos. Sério. Eu tento me
concentrar na música que estou ouvindo, dando a atenção que esse aparelho
merece. E isso, curiosamente, é divertido.
Fui apresentado ao
novo Orpheus por Axel Grell, o principal engenheiro da Sennheiser e o cara que
fez o Orpheus acontecer. Quando Grell se juntou à Sennheiser há 24 anos, a
empresa estava se preparando para lançar os fones de ouvido Orpheus, mas ele
não era o designer deles. Produzido por alguns anos no começo da década de
1990, o primeiro sistema de fones eletrostáticos Orpheus é considerado o melhor equipamento de som já produzido.
Para quem
não sabe, fones de ouvido eletrostáticos são diferentes dos fones normais que
você usa no computador. Fones de ouvido dinâmicos funcionam ao transferir
tensão de áudio para uma bobina que está ligada a um ímã, que por sua vez está
preso a um diafragma. O ímã se mexe, fazendo o diafragma vibrar, criando o som
que você ouve.
Fones de
ouvido eletrostáticos são muito mais sofisticados. Eles criam o som através de
uma película bem fina posicionada entre duas placas grandes de metal nos fones.
No novo Orpheus, essa película tem apenas 2,4 mícrons de espessura, e ela é
mais leve que o ar ao redor.
Quando a tensão de áudio é
transferida para as placas, a película vibra sem nem ser tocada diretamente.
Além disso, a película é tão leve que quase não tem ressonância própria. Isso
resulta – teoricamente – em uma claridade tonal que você não consegue em um
sistema dinâmico. (Este artigo,
em inglês, é muito bom para quem quiser saber mais sobre fones de ouvido eletrostáticos.)
O Orpheus foi
anunciado no começo do mês, e a Sennheiser não economizou nem um pouco
nele. Este não é apenas um fone de ouvido: na verdade, ele vem com um
amplificador enorme integrado a ele. O amplificador usa oito tubos de vácuo,
escolhidos pelo processamento de impulso superior em comparação ao sistema de
estado sólido. O problema é que os tubos são suscetíveis ao ruído aéreo de uma
forma que os sistemas de estado sólido não são, então para compensar, a
Sennheiser suspendeu os tubos em um bloco de mármore de Carrara (uma região na Itália).
A Sennheiser não
apenas gastou muito dinheiro em materiais, como também inovou em alguns pontos
do design eletrostático. Um dos problemas dos fones de ouvido eletrostáticos é
que eles precisam de uma voltagem muito alta para funcionar. No caso do fone
original, toda essa voltagem vinha direto do amplificador principal, e dois
terços eram perdidos no caminho para a película. No novo Orpheus, isso foi
resolvido ao se adicionar um amplificador diretamente nos fones de ouvido.
Grell me
disse que começou a pensar em talvez relançar os fones clássicos Orpheus há
cerca de 10 anos. Ele pensava em uma forma de melhorá-los. Em 2009, demonstrou
o que chamou de prova de conceito para a família Sennheiser (sim, a empresa
ainda pertence e é operada por uma família). A partir daí, ele precisou de mais
seis anos até conseguir trazer o produto ao mercado.
Estou usando
o termo “mercado” mesmo sabendo que não é muito preciso: a empresa planeja
produzir cerca de 250 unidades por ano, e por US$ 55.000 eles custam o mesmo
que alguns carros de luxo. Então você não vai encontrar um desses em lojas
convencionais.
Desde o começo a
experiência de usar o Orpheus é luxuosa. Pressione o botão para ligar, e ele
ganha vida como se fosse um tipo de reator nuclear. Os botões se destacam da
base de mármore:
Assim como os tubos
aparecem do nada:
De acordo
com Grell, os tubos ficam prontos para serem usados em cerca de 20 segundos,
mas eles só operam em um bom desempenho depois de meia hora.
A caixa se
abre e revela o fone em si:
O design
integrado do sistema como um todo é uma decisão interessante. Acredito que, se
você vai ter fones de ouvido estilosos que precisam de uma caixa à prova
de poeira e de um sistema especial de amplificação, então é bom que essa coisa
toda seja bem integrada.
Sentar em
frente a um fone de ouvido desses é como sentir a força de sua história e a
intensidade de seu design. Além disso, esses fones de ouvido são realmente
muito bons.
Há anos ouço
designers de produtos e audiófilos descreverem como acham um som tão belo que
ficam com vontade de chorar. Sempre achei que isso fosse besteira. Quando ouvi
música no Orpheus, eu não queria chorar, e sim rir. Era divertido!
Para ser um
pouco mais específico, os fones de ouvido reproduzem sons incrivelmente
nítidos. A Sennheiser me pediu para sugerir algumas músicas para ouvir. Escolhi
“Space Oddity”, de David Bowie, e “Age of Consent”, do New Order. Conheço muito
bem essas duas músicas, e as ouvi em tantos fones diferentes que já passei da
fase de descobrir alguma coisa nova nelas.
“Space
Oddity” é conhecida por sua gravação binaural. A melodia principal e a harmonia
são colocadas na esquerda e na direita, enquanto as várias partes são gravadas
de forma que uma boa reprodução conseguiria criar uma imagem espacial bastante
realista. O Orpheus reproduziu talvez a imagem mais marcante que já ouvi dessa
música. Cada parte da banda está no seu próprio lugar, e, em particular, ouvir
o som estridente elástico da linha de baixo é fantástico.
“Age of Consent”
não é uma gravação meticulosa, mas é provavelmente minha canção preferida da
história. O principal a ouvir aqui é a vibração do baterista Stephen Morris. Em
uma reprodução inferior, a performance dele começa a virar uma amálgama
sem muita definição. No Orpheus, você consegue ouvir cada batida separada com
seu som próprio.
Eu estava prestando
atenção nos mínimos detalhes de “Age of Consent” quando percebi que estava
olhando para o nada e quase não respirava. Estava subconscientemente tentando
não me mexer pensando que isso poderia perturbar a perfeição do som. Em pouco
mais de cinco minutos, eu fui tão dominado pelo som que basicamente tudo ao meu
redor deixou de existir. E aí eu comecei a rir. Porque por favor, cara, som de
US$ 55.000 – isso é ridículo.
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